O adeus ao escritor colombiano Gabriel García Márquez, Gabo

O Adeus

 

A morte e o adeus ao escritor colombiano, Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura em 1982, falecido aos 87 anos de idade, no dia 17 de abril, foi sentida e dito pelas mais diferentes figuras tanto das artes como da política e demonstrado por milhares de admiradores por toda a América Latina e pelo mundo.

Eduardo Galeano, escritor uruguaio, mencionou a dor que lhe causava a morte de García Márquez; em Colômbia, sua terra natal, o presidente Juan Manuel Santos decretou 3 dias de luto nacional por sua morte; a diretora geral da UNESCO, Irina Bokova, qualificou a morte do escritor colombiano de “uma grandíssima perda para a cultura universal” ; a Casa das Américas, em Cuba, deu seu adeus a Gabo – como ele era também conhecido - e relembrou a importância de sua participação, junto com os jornalistas Rodolfo Walsh, e Ricardo Masetti, na construção e desenvolvimento do projeto sugerido por Ernesto Che Guevara, da Agência de notícias Prensa Latina, ainda em 1959; o primeiro vice-presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, ao assinar livro de condolências por Gabo na Embaixada da Colômbia em Havana, ressaltou a importância de sua literatura, pois segundo ele, esta “exaltou o patrimônio cultural latino-americano, dando-lhe dimensão e relevância mundial, e creu sempre na justiça e na dignidade humanas”, como disse para a agencia de notícias Prensa Latina.

Seu corpo foi cremado e suas cinzas foram enviadas para o Palácio de Belas Artes na Cidade do México - grande centro histórico e turístico da capital do país no qual Gabo se radicou e vivia há 5 décadas - e colocadas no vestíbulo do Palácio, para a realização da cerimônia de homenagem e de última despedida de leitores e admiradores, que aconteceu na segunda-feira, dia 21 de abril. O local já foi cenário de homenagens a outros grandes nomes da literatura mexicana e latino-americana, tais como, Carlos Fuentes e Octávio Paz.

A cerimônia contou com a participação de sua esposa Mercedes Barcha, de seus filhos Rodrigo e Gonzalo e dos presidentes Juan Manuel Santos da Colômbia e de Enrique Peña Nieto do México, que fizeram discursos, além de apresentações culturais que incluíram música clássica, como os compassos do músico húngaro Bartok e o vellenato, gênero folclórico colombiano, ambos muito apreciados por Gabo.
Centenas de milhares de pessoas de várias nacionalidades fizeram fila e suportaram um dia de calor intenso para fazer a última homenagem ao escritor falecido.

No fim da cerimonia em que muitos dançaram e cantaram o vellenato, rosas amerelas, as preferidas de Gabo, encheram o céu e as ruas da Cidade do México.

Em Colômbia na terça-feira dia 22, foi realizada outra cerimonia na Catedral Primada e contou com presença do Presidente Juan Manuel Santos, de familiares que vivem em Bogotá, bem como de centenas de milhares de pessoas que se reuniram na Plaza Bolivar, para renderem suas ultimas homenagens.

Últimos Dias de Gabo

Após comemorar seu aniversário de 87 anos no dia 6 de março, o escritor ficou hospitalizado em um centro médico da capital mexicana, desde o dia 31 de março, por uma infecção pulmonar e de vías urinarias e por desidratação, mas havia recebido alta médica do hospital da capital mexicana

Sua assistente Mônica Alonso havia informado, à agência mexicana Dpa, que eram falsas as notícias sobre García Márquez sofrer de câncer novamente e, seu médico pessoal afirmou, a uma rádio colombiana, que seu estado de saúde era delicado devido a sua idade e a problemas de saúde recentes.

O escritor faleceu em sua casa no bairro de Jardines del Pedregal, na Cidade do México às 14:00h, após quase dez dias de ter recebido alta médica no hospital.

Biografia

Nascido no povoado de Aracataca na Colômbia no dia 6 de março de 1927, filho do telegrafista Gabriel Eligio García e de Luisa Santiaga Márquez, Gabo era o filho mais velho de 12 irmãos. Devido à condição de seu pai, pode estudar e cursar, em 1947, o curso de Direito, o qual abandonou posteriormente, para seguir a carreira de jornalista, profissão que amava e considerava a melhor do mundo.

Além de jornalista, Gabriel García Márquez também trabalhou como editor e roteirista, tendo escrito roteiros para o cinema tais como Tiempo de Morir (1965) de Arturo Ripstein, Maria de Mi Corazón (1979) de Jaime Humberto Hermosillo, O édipo Alcalde (1996) de Jorge Ali Triana e em parceria com J.Claude Carrière adaptou seu livro Memórias de minhas putas tristes (2011) que foi dirigido por Henning Carlsen.

O cineasta moçambicano naturalizado brasileiro, Ruy Guerra, foi o diretor que mais fez adaptações de suas obras para o cinema. Entre os títulos estão Erêndira (1983) - adaptação de A Verdadeira História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada -, A Bela Palomera (1988) – filme baseado em um parágrafo de Amor nos Tempos do Cólera – e Veneno da Madrugada (2004) – baseado em Má Hora.

García Márquez esteve intimamente ligado à vida, à cultura e tradição dos povos originais da América e dos povos que foram trazidos para cá e aqui construíram um universo cultural de significados novos; Gabo também esteve ativo e presente nas lutas dos povos latino-americanos contra o imperialismo, a exploração, e as ditaduras, que interromperam com seus regimes sanguinários, momentaneamente, o sonho de uma América Latina e Caribe livres. Em suas obras, com maestria e muita imaginação, García Márquez conseguiu transpor, por meio de uma linguagem intensamente criativa e viva o relato dessas lutas gloriosas e dolorosas, bem como recriar o universo mistico e mágico das crenças e das tradições populares; universo de personagens reais e de situações fantásticas, em um mundo no qual a fantasia se misturava e se confundia com a realidade; realidade essa que compõe nossas histórias e se estende até aos nossos dias.

Gabriel Garcia tornou-se amigo de Fidel Castro, quando esteve em Cuba em 1959, para cobrir a Revolução que se tornava vitoriosa naquele ano, e ao longo dos anos, estabeleceu-se entre ambos um carinho, respeito e admiração muito grandes.

As declarações de Fidel Castro sobre Gabo podem ser lidas neste site: http://www.cubadebate.cu/reflexiones-fidel/2008/07/09/descanso/#.U1yALPjnreQ

O escritor colombiano esteve pessoalmente envolvido, ao longo de sua vida, com história da Cuba socialista. Grande admirador que era da sétima arte, Gabo apoiou a Fundação do Novo Cine Latino-americano – da qual foi presidente - e fundou, na cidade de Havana, a Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) de San Antonio de los Baños, para futuros profissionais da comunicação latino-americanos e africanos. Na EICTV, Gabo realizou oficinas que se tornariam famosas posteriormente, em 1986, Como contar um conto e, ainda, apresentou palestras aos estudantes de como escrever roteiros cinematográficos.
Sua preocupação com Cuba dizia respeito também aos direitos humanos, lembrando sempre do trágico e cruel bloqueio ianque sobre Cuba que já dura 50 anos. Gabo escreveu em 1978 Ninguém poderia ter imaginado, no ano novo incerto de 1964, que ainda estariam por vir os piores dias desse bloqueio cruel e sem coração e que havia de chegar até ao extremo de acabar a água potável em muitas casas e em quase todos os instalações públicas.”

O texto completo de Gabo sobre o bloqueio ianque sobre Cuba pode ser lido no site : http://www.cubadebate.cu/opinion/2014/04/24/como-se-asfixia-a-un-pueblo-sin-tirar-un-canonazo/#.U1yAxfjnreQ

Gabriel García Márquez deixa para o mundo uma obra rica nos mais variados tipos tais com crônicas, contos, novelas, romances, matérias jornalísticas e criticas cinematográficas. Suas obras mais conhecidas são Ninguém Escreve ao Coronel – seu primeiro livro - Cem Anos de Solidão (1967), - sua obra-prima, que lhe rendeu o Nobel de Literatura em 1982 - A incrível e triste história da cândida Erêndira e sua avó desalmada (1972), Crônica de Uma Morte Anunciada (1981), Amor nos Tempos do Cólera (1985) e Do Amor e Outros Demônios (1994) – que, também foram adaptadas para o cinema - entre outros títulos, que o colocaram ao lado de gigantes da literatura latino-americana como Jorge Amado, Pablo Neruda, Júlio Cortázar, Alejo Carpentier e mundial como José Saramago, Jonh Steinbeck, William Faulkner, Anna Seghers, John Maxwell Coetzee, Doris Lessing entre muitos outros nomes.