EUA: Retrocesso da economia aumenta produção de armas

Caderno Especial Artigo de Antônio Duarte, militante e mestre em antropologia pela Universidade de Estocolmo Jornal Inverta, Ed. 289 (17 a 24 de maio de 2001)

Estados Unidos:

Retrocesso da economia aumenta produção de armas

Por: Antonio Duarte
Correspondente na Suécia

 


 A estratégia imperialista foi e continua sendo a mesma de antes. Eles precisam de guerras. Vivem das guerras de rapina, dos roubos e assaltos em escala mundial. Utilizam-se do método da acumulação capitalista colonial. No governo Bush, o pai, há mais de uma década, um certo vice-ministro do exterior, do governo americano, afirmava de maneira arrogante, descrevia uma “estratégia construtiva” para manter a hegemonia da “única” superpotência e intimidar qualquer país que ousasse desafiar a supremacia americana. Pois este senhor agora é também ministro do governo do filhote, Bush W. A crise na economia americana, revelada no governo atual do filhote, move-o a mesma estratégia do pai. Prestem atenção para a semelhança com o que diziam os funcionários coloniais de quase 100 anos passados.


A guerra contra a Ex-União Soviética é substituída por outras justificativas. Mas o conteúdo da política é a mesma. Os militares americanos começam “discretamente”, depois da derrota da guerra do Vietnã, a se espalhar pelo mundo. As forças armadas americanas e ou para-militares treinadas por eles ultrapassam os 2 milhões de soldados.


O professor Edward W. Said, de literatura inglesa, na Universidade de Columbia, no centro imperial descreve, em livro recente com detalhes, sobre essa forma de pensar e de atuar do grande poder colonial inglês, nos transportando a junho de 1910, quando Arthur James Balfour, funcionário colonial, em palestra na Câmara dos Comuns, defendia a necessidade da Inglaterra manter o Egito na sua esfera das colônias inglesas. “O problema do Egito é totalmente diferente das questões pequenas de política interna disse, referindo-se a “Isle of Wight ou West Riding i Yorkshire”. Aquele senhor detinha uma enorme autoridade por conta dos seus conhecimentos em guerras de rapina opressão, na Índia, Afeganistão, Egito em 1882, e ocupação do Sudão. Os deputados da Câmara dos Comuns eram de todo ouvidos, pois muitos tinham dúvidas sobre a “necessidade da presença da Inglaterra no Egito”.

A ocupação do Egito, segundo alguns, não era mais tão frutífera para os interesses coloniais ingleses, como dantes. Porque a resistência e o nacionalismo egípcio dificultava as coisas. O melhor seria retirar-se de lá. O mérito da questão é a semelhança do Ministro Wolfowitz, do governo Bush, o pai, “que a posição dos Estados Unidos como a única superpotência, deve ser mantida através de uma estrategia construtiva e numa força militar suficiente para intimidar qualquer nação ou grupo de nações a desafiar a dominação americana”, como Arthur Balfour, há quase cem anos atrás, que estava convencido que o seu papel em defender, o de informar e explicar para a Câmara dos Comuns, o estado das coisas.

Corrida Armamentista O relatório Wolfowitz, agora também no governo do filhote Bush, citado pelo jornalista Teddy-Jonh Frank, do Jornal Proletären, de 29 de março, Estocolmo, nos transporta para o estado das coisas no momento atual. O relatório se constituiu numa peça orientadora da atuação política do imperialismo americano durante toda a década de 1990. Agora, segundo Frank, retomada pelo Bush júnior. Hoje, como dantes, trata-se de afirmar uma política imperialista que assegure aos monopólios capitalistas, principalmente às grandes empresas transnacionais americanas, matérias-primas, força de trabalho escrava, nos países dominados e enormes lucros, de preferência muito rápidos, ao capital financeiro e cia.

No caso específico do Brasil, devemos nos lembrar do período anterior ao da ditadura militar, quando se gestava o golpe, desfechado pelos militares em 1964 contra o Brasil. O irmão do presidente americano, Robert Kennedy, veio ao país durante o Governo João Goulart, exigir que o governo brasileiro entregasse as jazidas de ferro de Nova Lima, à companhia americana Hanna Company. É que antes, vejam o perigo do “nacionalismo” aos olhos dos imperialistas, havia-se denunciado a farsa da empresa “a Mineração Nova Limense” que tinha nome brasileiro, mas não era de propriedade de brasileiros, e o presidente da Companhia. Lucas Lopes, era apenas um funcionário colonial, empregado da Hanna.

Em recente editorial do Jornal Inverta, 28/3, o redator fazia alusão às ligações entre os eventos da Comuna de Paris e a luta revolucionária do povo brasileiro. “Em perfeita consonância com o desenvolvimento histórico”. Como fazer comparação não paga direitos autorais, poderemos aqui, aludir às “explicações do estado de coisas” feitas pelo funcionário colonial Balfour, há cerca de cem anos, com os desígnios e o pensamento que regem a política imperialista, guerreira, armamentista do governo americano atual. Nem bem a tinta secou com notícias da Macedônia, se vê, eles lá, voando baixo, como tucano, na China, provocando opiniões que possivelmente, pensam irá favorecê-los em sua política externa de chantagem e golpes baixos.

Guerra 1 Os Estados Unidos gastam mais de 310 bilhões de dólares anuais com o seu poderio militar. Vide orçamento do Pentágono, e George Bush é bem rápido em anunciar mais dinheiro para os gastos militares. A balela da defesa anti-mísseis, como justificativa para o aumento. Não é estranho. Pelo menos para quem, nas últimas décadas segue a política e economia americana. Primeiro, a euforia, o crescimento. Depois os sinais de retrocesso, ou mesmo estagnação, que abalam os alicerces do capitalismo imperialista. A mesma história, a produção, diga-se os setores produtivos da economia são sacrificados, causado pelos fatores de superprodução, e diminuição do consumo.

É claro que toda a euforia do desenvolvimento harmônico do capitalismo abala-se com o aumento da concorrência entre os monopólios depois da queda do crescimento. A luta se torna mais clara. A economia imperialista, disfarçada em nome, do mercado, pelos seus áulicos economicistas, que insistem em chamá-la de “global”, revela as contradições. Os aliados de ontem, os amigos e colaboradores se tornarão muito possivelmente inimigos. Este é o clássico.

A guerra contra a Ex-União Soviética é substituída por outras justificativas. Mas, o conteúdo da política é o mesmo. Os militares americanos começam “discretamente” depois da derrota da guerra do Vietnã, a se espalhar pelo mundo. As forças armadas americanas e ou paramilitares treinadas por eles, ultrapassam aos 2 milhões de soldados. Só as forças convencionais, Exército, Marinha e Força Aérea somam quase 1 milhão e 500 mil. Grande parte destes contingentes, quase 150 mil soldados, estão estacionados na Europa, incluindo aqui as tropas de ocupação de Cosovo e Bósnia. No Golfo, e nas imediações da Arábia Saudita, a Marinha americana com Quinta Frota, e seus Porta-aviões, com mais de 1.000 aviões patrulham a região. Sem contar com os 14 mil soldados espalhados entre o Kuwait e Arábia Saudita. Esta máquina de guerra está dispersa também na Ásia, com 40.000 soldados, no Japão, e uns quarenta mil na Coréia. Quais os interesses por trás dessa presença militar? Os Estados Unidos, a rigor, a partir do final da segunda Guerra, nunca foi auto-suficiente no que diz respeito ao problema energético. Sempre foi dependente dos recursos que pilhavam fora do continente americano, incluídos Alasca e Canadá.

O petróleo é nosso Em começos da década de 1950, quando da “Luta pelo Petróleo é nosso” no Brasil, os Estados Unidos já previam o aumento de sua dependência com relação ao “mercado mundial”. Na década de 1970, quando da “crise do Petróleo”, os Estados Unidos importavam quase os 40% de suas necessidades. Atualmente, finais do século, começos de milênio, eles precisam importar muito mais da metade de sua necessidade em derivados de petróleo. Por ora, o petróleo existe sob o seu controle, nos países do Golfo, se bem que ultimamente questionado pelo “satânico” Saddan Hussein. Nos idos de 1950, os Estados Unidos diziam que não existia petróleo no Brasil. Talvez a questão do petróleo brasileiro não se colocava tão vital para os seus interesses. (Leia-se “O que sabe você sobre o petróleo?”, do mestre Godim da Fonseca).



Os Estados Unidos gastam mais de 310 bilhões de dólares anuais com o seu poderio militar. Vide orçamento do Pentágono, e George Bush é bem rápido em anunciar mais dinheiro para os gastos militares. A balela da defesa anti-mísseis, como justificativa para o aumento não é estranho, pelo menos para quem, nas últimas décadas segue a política e economia americana. Primeiro, a euforia, o crescimento. Depois os sinais de retrocesso, ou mesmo estagnação, que abalam os alicerces do capitalismo imperialista.


A Petrobrás nunca recebeu um centavo dos Estados Unidos. Os norte-americanos não gostam que outras nações produzam petróleo ou aço. A menos que o façam através das empresas imperialistas americanas. Eles trabalharam ativamente para destruir a empresa estatal brasileira no nascedouro, da mesma forma que fizeram com a Pelmex, Petróleo mexicanos, que sofreu campanha de sabotagem em suas instalações, com mortes de muitos operários. Tanto o que fizeram, primeiro com a ditadura militar entreguista, no Brasil, depois com os atuais funcionários coloniais em governo “livremente eleito”, que conseguiram recuperar para os seus completos domínios tudo que haviam perdido a partir da “revolução de 1930”. Voltamos aos tempos dos “carcumidos”.

Com a aplicação de política semelhante, deve-se esperar guerras e conflitos localizados. O tal senhor, Donald Rumsfeld, saca do bolso do colete, incrível arsenal de funcionários imperiais, “especialistas”, pois como Ministro da Defesa, tem muito poder. Atentem para o conceito eufemista, “defesa”. Rumsfeld apresentou há algumas semanas, um relatório de análise da situação do mundo atual. Saiu no “Washington Post”, o semi-oficial deles. “Durante mais de 50 anos, o centro da estratégia militar dos Estados Unidos se constituía na luta para frear o avanço da União Soviética na Europa, como vagalhões Marine gringoapós a Segunda Guerra Mundial, o relatório de Rumsfeld, tirou a conclusão que o oceano Pacífico deve se constituir agora no fulcro para o estacionamento dos militares americanos, e a China é considerada como a ameaça principal à dominação global americana”. O Chefe do senhor Rumsfeld, o atual presidente dos Estados Unidos, W. Bush, foi mais tradicionalista e afirmou em Paris que a “Rússia é uma ameaça ao mundo Ocidental”.

Voltemos aos idos do começo do século passado, em 1910, com a história de outro senhor colonial Balfour. Façamos uma concreção, uma superposição de fatos e pensamentos separados pela história, do mesmo imperialismo, o inglês seguido do americano, o do pai e o do filho. A semelhança não é uma repetição pura e simples, ela se “subordina às condições sob as quais "as histórias passadas oprimem como um pesadelo o cérebro dos vivos”. Vamos aos argumentos, às explicações que justificam, segundo os imperialistas, a posição de defesa da civilização. Seguindo a história no relato de Edward Said, o senhor Balfour, na sua defesa da permanência da Inglaterra no Egito, lembrava-se de uma questão provocativa de um Parlamentar dos Comuns, que dizia: “Com que direito os senhores fundamentam esta atitude superior em relação a um povo que os senhores escolheram chamar de orientais? (aqui se coloca a questão, do ponto de vista colonial de então, Oriente contra Ocidente).

Pois bem, Balfour se defendia dizendo que não tomava atitude de superior. Ele foi ao ataque contra as argumentações dos parlamentares que colocavam dúvidas sobre as reais causas de dominação do Egito. O ataque era a defesa do comportamento dos funcionários coloniais, que sempre partiam de uma posição de arrogância. Balfour, ao contrário, argumentou contra isto com todo um arsenal de conceitos e justificações. Começando por definir os egípcios como uma raça. Que os ingleses reconheciam a civilização criada, na qual os ingleses respeitavam muito mais do que qualquer outra. Fazia comparações elogiando o que o Egito teria contribuído para a civilização mundial.

Águia Imperialista O argumento principal era o do conhecimento da história passada. Era a demonstração de um saber que se transformava em poder. “Saber é poder”, o tema tão querido pelos intelectuais imperialistas. A outra dimensão da justificação “do estado de coisas” derivava do como aplicar este enorme conhecimento sobre a história de um povo. Apesar do Egito ter construído toda aquela civilização passada, não o tinha feito sob condições que pudessem ser sancionadas pelos “ocidentais”. Por toda aquela riqueza, aqueles monumentos, as pirâmides tinham sido feitas dentro de um contexto de tirania. Os governos daqueles povos eram tiranos, ao contrário da civilização ocidental, que tinha construído aqueles poderes democráticos, semelhantes ao “parlamento inglês”! (?)

Pois bem, devemos concluir que estes senhores de hoje, assemelhados aos de ontem, se utilizam de argumentos de causa e efeito. Primeiro, a do conhecimento, (o saber) sobre um povo; não interessa se é subjetivo, deduzido de observações na prática do exercício colonial ou imperialista. Segundo, o saber é transformado numa espécie de fardo, em que se exige o exercício do poder. Pois o que é bom para a Inglaterra é bom para os egípcios. O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil ! Balfour, por Juracir ou Roberto Campos. Relembrando as frases e argumentos, de ontem e de hoje, a visão do imperialismo atual, com Bush W, na cabeça, não é uma concepção de paz. Ao contrário, eles querem impedir que algum país ou dirigente de qualquer nação se julgue no direito de contrariar a política de dominação do imperialismo.