O 8 de março em São Paulo e as reflexões que nos traz a guerreira Domitila Barrios

Domitila - mulher, indígena, boliviana, dona de casa, oriunda das minas, mãe de sete filhos, dirigente sindical, presa e torturada pela ditadura na década de 70 dizia: “A nossa posição não é igual a das feministas. A nossa libertação consiste primeiramente na libertação de nosso país do imperialismo e que um operário como nós esteja no poder; e que as leis, a educação, tudo seja controlado por ele.

No dia 8 de março, como é de costume, organizações de esquerda de São Paulo organizam um ato que tem sua concentração no MASP e caminha pela Av. Paulista, na região central. O que não é costume, mas fez o ato rachar, dividindo as mulheres em sentidos opostos, foi as feministas de diversas organizações divergirem sobre o caráter político da Marcha, que neste ano contava com bandeiras pautadas na conjuntura política nacional.
Domitila - mulher, indígena, boliviana, dona de casa, oriunda das minas, mãe de sete filhos, dirigente sindical, presa e torturada pela ditadura na década de 70 dizia: “A nossa posição não é igual a das feministas. A nossa libertação consiste primeiramente na libertação de nosso país do imperialismo e que um operário como nós esteja no poder; e que as leis, a educação, tudo seja controlado por ele. Então, depois, vamos ter mais condições de chegar à uma libertação completa, também da nossa condição de mulher”.

Quando Domitila se refere “às feministas” é evidente que ela se refere às feministas burguesas, pois a análise do discurso da Domitila deixa claro que ela e suas companheiras exigem e lutam contra o machismo e pela emancipação da mulher. Nesse sentido, dizemos sim que Domitila é uma feminista, porém com um adendo essencial, uma feminista revolucionária, que vinda do ambiente da classe trabalhadora consegue ver além das feministas burguesas e toma posição consciente do seu lugar na luta de classes, ombro a ombro com a classe trabalhadora.

Apesar da libertação completa da mulher estar atrelada às relações de produção da nossa sociedade, é imprescindível e mais que possível, o combate ao machismo no seio da classe trabalhadora no nosso dia-a-dia, para que, nas palavras de Domitila, a família proletária, torne-se “uma barreira intransponível” para o inimigo de classe. E durante toda sua vida Domitila batalhou para expulsar a moral burguesa de sua família, para provar que as mulheres também se metem com política, também lutam, e que o trabalho que fazem em casa é tão importante e cansativo, ou mais, que o trabalho que “põe o dinheiro” em casa.

Domitila diz a respeito do Comité de Amas de Casa Siglo XX [Comitê das Donas de Casa Século XX], sindicato do qual foi dirigente, que “sempre nos fazemos escutar por nossa voz, e estamos prontas para executar as tarefas a que se propõe a classe trabalhadora”. É por isso, que ela se diferencia das feministas burguesas, pois relaciona a questão do mulher à Luta de Classes. Neste sentido, de algo semelhante se tratou o 8 de março em São Paulo.

Após a briga entre as organizações, na qual lamentavelmente uma militante foi agredida fisicamente por outra (ato injustificável e inadmissível, que condenamos fortemente!), a marcha se dividiu em duas: uma de mulheres contra o golpe, em defesa do governo Dilma e da democracia, que reuniu organizações ligadas ao PT, PCdoB e outras organizações (principalmente as ligadas à Frente Brasil Popular), e outra marcha com as mulheres a favor do golpe, com organizações ligadas ao PSTU, PSOL, PCB e outras; que em falas informais dizem entre outras mesquinharias pequeno-burguesas, que “defender Lula no 8 de março é absurdo, pois se trata de um homem” ou “o governismo está tirando a mulher da pauta do 8 de março”.
Nada de novo! Domitila conta que já foi advertida em um encontro mundial de mulheres a “parar de falar de seus companheiros trabalhadores das minas, pois este se tratava de um encontro para falar sobre as mulheres”. Sua resposta: “Cada manhã você chega com uma roupa diferente e eu não. Cada dia você chega pintada e penteada como quem tem tempo de passar em um cabeleireiro, bem elegante e pode gastar boa grana nisso e eu não. Eu vejo que você tem a cada tarde um motorista em um carro esperando você na porta deste local para te levar pra sua casa e eu não. E para se apresentar aqui como se apresenta, estou certa de que você vive em uma casa bem elegante, num bairro também elegante, não? E, nós, as mulheres dos mineiros, temos somente uma pequena casa emprestada e quando morre o nosso esposo, fica doente, ou é aposentado pela empresa, temos noventa dias para abandonar a casa e estamos na rua. Agora, senhora, diga-me: Tem você algo semelhante à minha situação? Tenho eu algo semelhante à sua? Então, de que igualdade vamos falar entre nós? Se você e eu não nos parecemos, se você e eu somos tão diferentes? Nós não podemos, neste momento, sermos iguais, mesmo como mulheres, não lhe parece?

Domitila deixa claro que não há igualdade entre as mulheres, e que as demandas das mulheres ricas são bem diferentes das demandas das mulheres pobres, justamente por uma questão de classe e raça! E que por essa diferença de classe e raça, justamente se colocou a prova o 8 de março em São Paulo. Um racha que demonstra como toda essa teoria de sororidade e de unidade das mulheres e etc não passam de palavras jogadas no ar quando convém, pois, neste caso, a questão política do Golpe falou mais alto e fez com que as mulheres da classe trabalhadora tomassem uma posição para defender seus interesses de classe, frente às outras mulheres que defendem a atual conjuntura golpista.

Não é só pela figura de Dilma e Lula que lutam essas mulheres, mas sim pelo projeto político que levou comida para a mesa de milhões de brasileiras e brasileiros; que fez com que mães analfabetas vissem suas filhas e filhos ingressarem na universidade particular pelo Prouni e SISU ou nas Federais pelo ENEM e tivessem oportunidade de faze-lo também; que garantiu através do Programa Mais Médicos ginecologistas para as mulheres, pediatras para as crianças e profissionais qualificados da área da saúde da família para atender em regiões remotas, onde a nossa elite médica jamais quis atender; que através das Farmácias Populares garantiu remédios mais baratos para muitas famílias, entre outros.

O governo do PT comprova na prática a necessidade de um programa revolucionário, e não reformista, além de demonstrar também a impossibilidade de aliança com a burguesia nacional, que tem por característica insubstituível, a subordinação à burguesia do império. Apesar de não conseguir assegurar os mínimos direitos da classe trabalhadora frente à crise, e de não romper com o capitalismo, esse governo é o que nos dá minimamente chance de nos organizarmos, seja não escancarando as portas ao fascismo, seja não atendendo diretamente o imperialismo, seja mantendo programas sociais, mesmo que a duras penas. Por isso, as mulheres proletárias devem defender o governo da presidenta Dilma contra o golpe.

Comitê Caititu em Movimento